VELHO TEATRO AVENIDA
Imagem actual do velho Teatro cuja renovação tarda !
Há três ou quatro anos a autarquia município comprou o Cine Teatro Avenida do Luso com o intuito expresso de o reconstruir dentro duma clara estratégia de recuperação o que aliás vem fazendo com o reaproveitamento do Teatro Messias e do cinema da Pampilhosa. Quanto ao do Luso, há por aí quem argumente que a destruição pura e simples seria a melhor solução, porque está fora de moda e de clientes. Claro que pode ter alguma lógica esta argumentação, mas ela não foi a lógica utilizada para os dois cinemas já recuperados, um a funcionar com prejuízo permanente, outro num acabar de obras que irão seguramente desaguar no mesmo prejuízo financeiro. Podemos multiplicar até por trezentos municípios deste país este prejuízo hospitalar! Mas espanto-me com estas teorias apoiadas em cegas opiniões e fico a duvidar perante o velho adágio se há ou não há fumo sem fogo, quanto ao Luso.
Se fossemos basear as recuperações e muitas obras que se tem feito país fora nesta questão da sustentação monetária, nomeadamente os cinemas, mas também as piscinas e os pavilhões, os arquivos e as bibliotecas, os relvados e as praias fluviais, museus etc, etc, não se teriam efectuado na sua maior parte, não por serem inúteis, mas porque o país não cria riqueza suficiente para a sua manutenção e sustento. Esquecemo-nos que antes da casa se faz um alicerce e esta opção por equipamentos ao quilo, discutível é certo, tem levado os municípios á revitalização de estruturas que tem assumido um âmbito nacional e isso parece-me suficiente para exigir a finalização da estratégia que tem sido seguida pelo município da Mealhada. A freguesia do Luso, depois do total desacerto que levou á minimização das termas e á deslocalização da indústria sem qualquer contrapartida, não pode ficar mais uma vez a ver navios pendurada num poder que raramente percebe os problemas específicos da localidade. O teatro Avenida do Luso também tem a sua história, mas mais que isso ele é uma memória de gerações. Ali se realizaram espectáculos e sucederam acontecimentos que fazem parte do presente que somos. Ali funcionou durante décadas uma espontânea escola de teatro que hoje, entre saudades e anseios, aguarda um palco para continuar. Coisa que nos recorde, vem de gerações anteriores de bisavós, avós e pais. Esvaziar a memória das populações é matar na sua génese os costumes, a cultura, a sua alma, levando as sociedades ao vazias dum passado esquecido. A memória colectiva é espelho do que fomos e visão do que seremos, cordão umbilical que nos une como agregado. Ali está a experiência, a sageza, o ensinamento, o erro, valores comuns que são de todos. Ainda que muitas vezes, de forma inconsciente, são a hereditariedade atávica dos nossos antepassados. Poucos, é certo, mas bem caracterizados. Hoje, não se pode pensar uma sala exclusiva para cinema, mas numa sala polivalente ou multiusos, onde se possam fazer congressos e reuniões, exposições e encontros, variedades e projecções de cinema e meios audiovisuais, uma sala ao dispor da população para ensaiar e levar á cena as suas peças de teatro, um local aberto e ponto de cultura. Uma sala que, pelas vicissitudes do tempo, o Luso deixou de ter. Uma sala onde preserve memórias e dê azo às suas intervenções. As terras são as suas gentes, as suas promiscuidades, os seus desejos, os seus sonhos, não matemos com desrespeito pelo que fomos, o que continuamos e querem continuar a ser. Muita coisa falta no Luso, não destruam mais um pedaço do espaço que nos pertence. É preciso exigir essa pertença.
Gota, Dezembro,2014