TERMAS DO LUSO
UM VERÃO DE S.NICOLAU
O ano de 2013 foi-se num Verão em que tivemos por aí o enfático São Nicolau na televisão, queimando ramos verdes sobre termas e spas o que nada adiantou nem atrasou ao movimento de aquistas. Uma espécie de santo de pau carunchoso a fazer crer que está o que não está, existe o que não existe, se faz o que não se faz, teatralizando cenas mascaradas de funcionalidade a justificar o injustificável, enfim, marketing de fraca qualidade e ineficaz, uma fachada deprimente para comércio da paróquia.
Meteu o artista a confirmar a arte, a imagem, a exposição e copos de água para enganar papalvos. A verdade porém continua a ser a da incapacidade das termas, agora também clínica, para dinamizar spas, fisioterapia, ingestão de bebidas, banhos e como consequência desta ineficácia o negócio local é agora alimentado pelos garrafoneiros que fazem o favor de vir recolher nas onze bicas da fonte pública os desperdícios gratuitos. Fazem-no livremente e livremente deixam no local lixo que chegue para dar trabalho a quem está para que quem vem seja contabilizado como turista. Na mentira disfarce da verdade deste cenário em que caiu o Luso, caíram primeiro as Termas, por isso a arte do Nicolau procura colmatar as insuficiências cardíacas do paciente sem remédio nem purgante.
De resto, quanto a aquistas, clientes, hóspedes, gente palpável na formação de alguma riqueza compensatória, enfim, alguém que empurre esta economia de subsistência hoteleira, foram-se quase com tanta limpeza como os próprios concessionários. Destes, apenas o rabo duma fundação para iludir incautos, confundir o poder e tranquilizar a má consciência. Depois de liquidar perante as barbas dum poder autárquico desastroso a indústria do lugar, abandonaram o barco, diz-se, que por aí até Cracóvia, bela cidade sem dúvida, que acaba por beber na circunstância do sangue que nos é tirado.
Como podia o Nicolau fazer milagres ainda que represente muito bem a ingestão no seu papel panfletário, se o Luso, na sua forma de termalismo ficou arrasado, as camas desocupadas, o negócio minimizado e o contrato de concessão, salvo melhor opinião, em possível estado de incumprimento? Sem que Autarquia e o Estado tentassem pôr fervura no descalabro, optando sim por água benta e omissão prejudicando gravemente a freguesia, o concelho, a região. Foi por isso que em 2014 Janeiro nasceu mais triste com o encerrar da última pensão, a Astória que passou também á história.
Num país de doidos, para parafrasear o irreverente Medina, não haverá lugar a dúvidas. A cervejeira que parece fazer o que quer, cumpre, os advogados defendem e as pessoas calam. Ao Estado vendido, basta a comodidade e o voto, porque pôr em causa o contrato da concessão, tem estado fora de causa. Medo, interesses? Não se sabe. Assim o cidadão fica sem saber se há incumprimento das regras estabelecidas, a autarquia amealha os proveitos de provisórios arranjos, as pensões acabam e o Luso termal fenece. Hoje de nada beneficia com a exploração da matéria-prima retirada abaixo dos nossos pés. Então e as pessoas? Pergunta-se. Onde estão as pessoas neste arrotar do remanescente europeu?
Deixando aos Nicolaus os seus papéis e cachés vê-se o desastre que foi o atrofiar da vertente do termalismo clássico, o engodo dum spa, de um Luso 2007 e outros mais, com a intervenção comprometida da política do município em favor da destruição operada nas Termas, minimizadas para um terço do que eram num projecto destrutivo que esteve meses e meses à vista de todos nós e ninguém quis verdadeiramente averiguar. O Luso termal está morto e era do morto afinal que provinha a riqueza que sustentava as pessoas. Sabia-se. Porque estas não vivem da palavra, do discurso, das promessas ou da iniquidade dos políticos. É preciso ressuscitar o defunto para ressuscitar as pessoas. Coisa que neste país é um problema com oitocentos anos de pesadelos. Na minha terra natal, chegou-se ao ponto de dar tudo a troco de coisa nenhuma. Uma questão de política, de cultura, filosofia, incompetência. De doidos, como diz Medina ! Luso,Fevereiro,2014 (JM-Crónicas locais)