Casa construída pelo nativo e conterrâneo José Troncho de Melo, médico,provavelmente até pelo pai Manuel Troncho de Melo, nos princípios do séc. XX, está nos dias de hoje em lamentável ruína, sem donos e sem futuro. Diríamos que está em decomposição, apesar de estar situada no centro do Luso, a dois passos de tudo e abandonada por todas as forças políticas , quer da autarquia cãmara, quer da freguesia.
José Troncho de Melo, nasceu no Luso filho de lavradores com grande folha de bens. Formou-se em medicina na universidade de Coimbra e exerceu em Lisboa, no Luso e no mar, a bordo de paquetes que faziam as viagens transatlânticas entre a Europa e a América latina. Médico, estudioso, um pouco de cientista, escreveu vários livros. Entre eles Luso-Bussaco Estação de Repouso, Buçaco e seus Horizontes ou Leonor de Lencastre. Na sua época,teve a sua Vida, teve uma Obra, depois foi esquecido pela terra que o viu nascer. Foi um homem de carácter , impulsivo, dinâmico , que não esqueceu o seu lugar no mundo que era o seu. Fez conferências em Portugal e Brasil, onde conviveu e colaborou com a comunidade portuguesa e com a família de Melo Pimenta, originária do Luso. Foi presidente da Câmara do seu concelho. Homem ativo e controverso no bom sentido, passava muitos dias nas suas propriedades e fazia prospeção de água, abrindo numerosos poços nos seus terrenos, no entanto, sem grande êxito na busca, chegou á conclusão por experiência própria que a vertente oeste da serra do Bussaco é parca de água. Muitos desses poços ainda subsistem nos seus pequenos caudais ou simplesmente choros de água que sobrevivem. Por ser ativo, participante e polémico, os conterrâneos obsequiaram-no com a alcunha de Ciclone, numa época em que poucos passavam sem um apelido extra, uma alcunha adaptada a um jeito ou um feitio.
A Miralinda foi vendida em meados da séc. XX ao industrial de azeites Correia da Silva, quando construiu em Stª Eufémia uma fábrica de extração de azeites por processos quimicos. Depois de a recuperar e modernizar, este industrial do Porto ali viveu alguns anos com a família. Depois de moradia familiar, passou a Casa do Povo e finalmente a posto médico da segurança social. Hoje, esta casa está abandonada , entregue á sua própria ruina.
Por volta da viragem do século, a segurança social retirou-se do edficio, que ficou então entregue á última direção eleita ,como propriedade sem dono. Se tivesse sido entregue á Câmara Municipal, poderia ter sido recuperada com apoio da comunidade europeia, direcionada para biblioteca publica, museu de hotelaria ou outro destino consentâneo com necessidades da terra, no entanto, não se conseguindo esclarecer a situação o desleixo e a incuria tomaram conta do bem até aos dias que correm . A vila, além de não ter poder próprio, também passa pela falta de iniciativa dos naturais para lutar por estruturas próprias. Um museu de hotelaria ou um monumento dedicado aos homens ,estruturas de entretenimento capazes de criar desafios e atrair o turista, uma entrada na Venda Nova espaçosa e digna , onde a água tenha um lugar de eleição, lutar pela construção da barragem projectada para o Vale de Ribeira, uma bacia liquida necessária para apoio à floresta e aos fogos, mas também ao turismo, uma funivia entre o Luso, o Bussaco e a Cruz Alta, uma pista de squi alpino numa encosta da serra, usando materiais modernos que substituem a neve com êxito, como existe Europa fora, uma praia fluvial nas margens do lago que hoje não tem uma utilização que se dirija á industria da terra , turismo e alojamentos. De facto , o Luso habituou-se a ter tudo feito e hoje, quando a crise se instala e fica, não há outras respostas para atrair e fixar o visitante, quando até as falhas do contrato de concessão das termas não se faz cumprir, algo que é degradante para nós , enquanto portugueses.Os seiscentos euros anuais pela concessão da mina de água termal, foram substituidos pelo nada que fica na vila, pela mudança do engarrafamento da água de Luso , pelo fecho e transferência da sede da empresa para Lisboa e pelo, uma dádiva perversa da comunidade europeia que permite o roubo da riqueza por outros membros da união. pagamento dos impostos na Polónia.
Depois, enquanto existirem cavacos que vendem os bens públicos ao capital estrangeiro, Tap,Cimpor, Galp, CTT, EDP, Central de Cervejas e até a água de Luso e socraticos que dolorosamente nos fazem pagar as dividas até às gerações dos nossos netos e bisnetos, mediante contratos faraónicos que fizeram em favor de compadres e familias, e com lucros não sabemos para quem, não existem formas de sair desta agonia que já tem barbas e séculos. Um Portugal no mesmo lodo da injustiça e duma democracia que tem imperadores no topo dos partidos.
Hoje, o imóvel da Miralinda, como outros palacetes valiosos existentes, vai processando a sua ruína perante um poder abúlico, cego, inerte, onde a incuria e a noção do património e das irresponsabilidade que cai sobre os que se candidatam aos lugares politicos, se limita ao silêncio e á ignorância . Nem a freguesia, nem o município , nem as pessoas naturais e residentes, se levantam em voz , para que se faça um aproveitamento digno do imovel antes que se transforme definitivamente nuns restos de lixo urbano.
Quer as termas, quer o nome do construtor cidadão do Luso, Troncho , nem aqueles teimosos que continuam a acreditar na vila mantendo os seus negócios com extremas dificuldades, merecem respeito da parte de quem manda. Esse respeito ou cumplicidade vai para os investidores capitalistas estrangeiros , os que levam a nós, o cidadão comum, anos de vida e sacos com riqueza que era nossa. Perder o que temos por incúria, é o pior que pode acontecer a um país, quando não há massa critica nem vontade politica nas estruturas politicas dess país, para saber governar decentemente, agora que não há Albuquerques, Almeidas , Castros e Albergarias para assestar canhões nas terras indefesas conquistadas. Num concelho pobre de património, mas muito pior que isso, pobre de ideias, as coisas agravam-se á bolina dos ventos partidários , do seu rei e do seu capelão , quando não é o mesmo. A Miralinda, situada num sítio soberbo deste pequeno burgo, é um exemplo acabado da brincadeira politica que gere o solo pátrio.