A RUÍNA DAS TERMAS
No mês de Julho do ano de 2009 escrevia eu neste jornal sob o título 15.000 dormidas estoiradas, um artigo criticando a má gestão que o município aligeirava em relação às Termas do Luso e à sua redução e transformação em clinica ‘de luxo’, isto a propósito do seu encerramento para obras no começo daquela época termal, no mês de Junho desse ano cortando, município e concessionária em conluio, a receita desse Verão aos agentes da hotelaria local e por consequência ao próprio município. E fazendo contas, ainda que simples e de receitas primárias, iam, como foram ao ar, só em dormidas, qualquer coisa próxima de um milhão e duzentos mil euros, o que me pareceu um abuso de poder e de respeito para com os eleitores e industriais, pelo simples facto das obras poderem esperar até ao fim do Verão pelo seu inicio, o que, ironicamente, veio a acontecer de forma casual mas com as termas fechadas. Comprovava-se assim a péssima gestão, a irresponsabilidade e a ignorância das coisas de hotelaria e turismo que dominava no executivo de então, cujas consequências em nada perturbaram os eleitos reinantes, como era de esperar.
Hoje, relendo o texto, não só não lhe retiro uma vírgula, como constato a perversão da estratégia levada a efeito então, se é que havia alguma estratégia em relação a matérias de turismo e hotelaria para esta autarquia, coisa que, no meu entender não existia e que hoje, face á actuação do actual executivo, me parece não existir também. Como cidadão do município e do país, é-me difícil observar e perceber o descer do movimento termal duma população de aquistas que nos últimos anos da pré-transformação em clinica rondava os 1.600 utilizadores e que hoje, os luxuosos aquistas da nova clinica a preços de revenda e ainda subsidiados pela Câmara com dinheiro dos nossos impostos, não cheguem a atingir os 600.Na realidade nem a novidade nem a subvenção alteraram em absoluto a frequência do ano anterior , como na história do chinês, deu-se o dinheiro mas não a cana de pesca.
Com a construção do SPA reduzindo a área das termas a um terço, tal como foi autorizado pela autarquia Câmara ( alguns sábios edis até foram recompensados com tachos em órgãos de turismo ) não se edificou o SPA prometido às Termas do Luso, ou ao município da Mealhada, mas um SPA para um hotel que até deixou de se chamar das termas para ser apenas hotel. Com dinheiro da Comunidade Europeia, com dinheiro do Estado Português, e uns restos da cervejeira concessionária! Para quê afinal? Para destruir as Termas e a Fisioterapia que lhe estava agregada, para destruir pensões e casas de hospedes que enchiam a vila na época termal, para reduzir nos cofres municipais os impostos respectivos, para retirar ao concelho receitas certas e escorreitas de gente que trabalhou no duro para realizar o sonho do sábio mealhadense que foi Costa Simões, o grande pai impulsionador das Termas do Luso. A ele se deve o seu início e os passos fundamentais dos primeiros tempos. A política actual não é digna desse passado nem o douto sábio mereceria semelhante acto póstumo!
Todas estas transformações foram fruto da curiosidade, amadorismo e displicência de políticas erradas, na defesa duma empresa cervejeira contra interesses da população, e do concelho. Hoje, as Termas do Luso não existem, ocupam um terço das extintas instalações e um Spa praticamente ao serviço dum hotel. Das mais de mil camas que existiam há dez anos atrás na freguesia, existirão hoje trezentas, se tanto, pois entretanto as pensões fecharam, o pequeno comércio sobrevive com imensas dificuldades e a câmara municipal actual, pode acompanhar-se pelos planos e orçamentos anuais, não possui qualquer estratégia turística para o município nem qualquer plano que conduza a uma reformulação do complexo termal que era uma esperança subjacente nas últimas eleições. Assiste-se sim á inauguração duma loja de turismo na sede do concelho, cuja freguesia, como sabemos, não tem praticamente actividade neste campo. Tratando-se duma loja da Rota do Vinho ou da Rota de Leitão, até estaríamos de acordo, mas sendo um posto de turismo, trata-se dum absurdo, de falta de bom senso, dum disparate levado a cabo por alguém que não sabe o que está a fazer, além de ser fraco sinal para o futuro do sector.
Li e reli o plano de actividades e orçamento para o ano corrente. Li e reli actas do executivo e da Assembleia Municipal. E fico espantado que , no meio daquele relatório de coisa nenhuma, não haja um eleito nestes órgãos do poder da gestão local que levante a voz , alguém que diga uma palavra que seja certa ou menos certa , a favor da reabilitação das Termas e da Fisioterapia e da reposição do espaço que lhe foi retirado pela incompetência de muitos e sempre a favor dos interesses da concessionária cujo cumprimento do contrato se torna obscuro e duvidoso.
Esse é o problema estrutural e fundamental do Luso de hoje e do próprio município. Esse e a falta duma estratégia correspondente ,calendarizada e com metas e objectivos para cumprir a tempo e horas. Recuso-me acreditar que os autarcas estejam calados pelas esmolas dos concessionários !!! Há leis neste país, órgãos políticos e órgãos judiciais e ainda existe um tribunal da CEE onde se pode lutar contra abusos e tiranias. Julgo que é para isso , para defesa das populações, da riqueza e do património que nos pertence, pela busca duma vida melhor para todos , que elegemos alguém a quem pagamos bem, nada lhes ficamos a dever, com impostos que nos saem dos bolsos !
Embora não acredite em mais ninguém, continuo a acreditar num candidato que fez obra anterior e se comprometeu, antes do acto eleitoral a lutar até ao fim pela reabilitação do património que são as Termas do Luso!
É sua a obrigação e o seu dever! Gotenborg,11 de Janeiro,2016