A ÙLTIMA PENSÃO
Comecei o ano a lamentar o fecho da última pensão das Termas do Luso num pequeno apontamento na crónica anterior, mas hoje proponho-me relembrar algumas outras unidades da hotelaria que o tempo consumiu, umas certamente por inabilidade local, outras por falta de continuidade familiar ,outras pelo estadoi tísico a que chegou a terra por mor de quem lhe extrai a única riqueza que tem no subsolo, a água. Não fosse esta riqueza abundante e talvez as termas tivessem mais oportunidades de sobreviver! Elas foram desde metade do séc. XIX ,o único polo de desenvolvimento local e o desinteresse a que estão agora votadas é a ruina dos dias actuais. Era de prever, era de ver!
Alguns leitores podem pensar que a minha insistência no assunto é exagerada ou que sou pessimista crónico. Não, não penso uma coisa nem outra, trata-se apenas duma teimosia sem frutos, revolvida sem arado, num terreno de ervas daninhas onde o joio se apoderou da razão. Depois, não entendo como se pode calar a subtração da riqueza dum lugar, e sublinho que pessoalmente nunca subsisti da minha terra natal, quando os exploradores da riqueza se defendem com a panaceia duns trocos para manter o silêncio dos poderes politizados e das gentes. Não quero ser a voz de ninguém mas quero ser, na parte de que me toca de gentio, a minha voz. A minha opinião. Um grito de revolta. O silêncio é a aceitação duma canga que o Luso e a sua população não merece face á mina que lhe é explorada no subsolo e ao papel activo e ás vezes inovador que desempenhou na àrea das àguas e turismo em Portugal. E ao que construiu durante durante 150 anos de industria.
Viver de recordações ainda que avalize um passado não é suficiente para construir um futuro , há que reconstrui-lo com outros métodos , outas forças e outro empenho. Foi assim que nos primórdios das Termas se disponibilizaram casas e quartos para os primeiros termalistas e só depois surgiram as pensões. Dos meus tempos de juventude recordo a Pensão Avenida , a Lusa, a Portugal, a Central, a Alegre, a das Termas, a Astória, depois a Regional, a Imperial, a Bussaco, a Choupal. Sem esquecer o pioneirismo dos hoteis com o Central , depois Coimbra na década de vinte, o Palace do Bussaco, traçado pelo cenógrafo italiano Luigi Manini, o Hotel Lusitano e o Serra ,( herdeiro do Serra Velho ) , ou o Hotel dos Banhos em pleno centro do Luso e só depois o Grande Hotel das Termas traçado por Cassiano Branco ou o Eden , mais recente.
A maior parte deste mundo morreu bem como as figuras que lhes deram o nome e lhe sustentaram a imagem , mas nós, descendentes de gerações comprometidas e activas com este rico espólio e tradição, somos herdeiros vencidos pela estagnação verificada. São tempos maus para as pessoas mas é às pessoas que cabe exigir dos poderes publicos e políticos uma mudança radical de atitude , uma exigência firme na defesa dos interesses locais onde a industria hoteleira e do turismo teve um lugar destacado. Onde o estabelecimento termal e o seu apoio de fisioterapia e bem estar fazem falta e foram um bem delapidado inconscientemente com a conivência omissa de entidades com responsabilidades na matéria . Onde, quem subtrai do subsolo a única riqueza tem deveres para cumprir como polo dinamizador. Há ou não desenvolvimento, como diz o contrato de concessão? Se há retrocesso , um país honesto só pode rescindir o negócio !
Parece que os concessionários se admiram com a pouca frequência das Termas , resumida a 600 aquistas. Quanto pegaram nisto pela água engarrafada , eram 1800 os utilizadorres. Ironicamente, tudo fizeram para reduzir a um terço a área termal , curiosamente de 1800 metros quadrados, para 600. Admirados? A sua acção foi reduzir, não foi desenvolver! A mesma ironia, mas gostosamente admirados talvez. Ou a hipocrisia?
Há poucas dezenas de anos a época balnear fazia do Luso uma pequena cidade com cinco,seis mil habitantes e mais de quatro mil aquistas. Porque destruiram tudo isto a favor exclusivo da água engarrafada? E as pessoas? O municipio ? A região? Nada conta?
Parece que aceitamos a albarda estrangeira e a mama de quem vende a Pátria sem qualquer reclamação ! Luso,Fevereiro,2014